Quando se fala em aborto a questão, para mim, é duplamente problemática. Primeiro, porque enquanto cidadã que defende que cada um deve ser responsável pelos seus próprios actos (mesmo pelos actos de irresponsabilidade ou mero descuido), não encaixo muito bem o, "querido, tirei o miúdo!". Em segundo lugar, e aqui a minha experiência académica a vir ao de cimo, porque, mesmo estando dois princípios constitucionais em discussão, o direito à vida e o direito de liberdade e autonomia de cada um(no caso, das mulheres), haverá um destes princípios que deve prevalecer sobre o outro.
Para mim o direito à vida!
Questionei-me se poderíamos considerar vida algo que ainda estava em formação... num debate sobre Boiética tive a oportunidade de obter a resposta: sim, temos vida! Isto para a questão científica.
No plano social muitos pró-abortistas para exemplificarem algumas querelas em concreto dizem-me: "para quê terem os filhos se não vão ter condições para os criar"; "para quê encher o bolso à clandestinidade pondo em causa a vida das mulheres"; "para quê ver crianças a serem mães".
Bem, concordo em toda a problemática, descordo da solução dada pelos mesmos. A solução não será para mim tirar, a solução é consciencializar, prevenir, intervir... Consciencializar e prevenir os jovens e, em caso de falha, assumir e intervir com todo o apoio da sociedade e do Estado fazendo-os crescer. Intervir nos meios socialmente desfavorecidos, aliás, intervenção essa que já está operante pois, segundo sei, os Centros de saúde já fornecem contraceptivos gratuitamente. Intervir e evitar a clandestinidade assegurando o que levará uma mulher a pensar em aborto, do económico ao social ,passando pelo estrutural, no fundo, agir.
Para os que pensam que os meios serão acessíveis aos pobres enganam-se, as medidas poderão vir a ser adoptadas, mas até o actual ministro da saúde, Correia de Campos, já disse que o sector privado terá primazia de intervenção no sector, ou seja, o aborto não chegará para todos, será para os ricos. A clandestinidade continuará a existir e o problema também mas, agora, haverão dois.
Assim, só posso dizer que os que pensam que podem tudo, continuarão a fazer tudo. Os que não têm consciência, continuarão a não ter, só que, ir tirar um filho passará a tema de café e, quiçá, passar a vir nas compras do mês.
Será de implementar um dia? Talvez, mas agora não é o momento. Se vou continuar a apoiar excepções, vou! Não sou do tipo de pessoa que pensa que o direito à vida não pode ter excepções sob pena de o estarmos a desvirtuar. Não, como toda a norma, a regra pode ter a excepção. No exemplo das vítimas de violação, e numa sociedade em que se pune e bem, o crime, não concebo a ideia de dar vida a esse mesmo crime quando a vítima poderá passar de uma para duas, pois uma criança que vem nestas condições ao mundo vai ser sempre o espelho da mão criminosa. Reitero, vamos consciencializar! Se nos consideramos uma sociedade metalmente evoluída, não vamos agora retroceder ao paralismo intelectual de tantos países (principalmente a oriente), onde a vida humana não tem significado algum.
Deixo-vos, aqui entre nós, o alerta...