Chamava-se Esmeralda...

Ora, não posso ficar mais perplexa com semelhante comentário.
Primeiro porque na abertura do seu parêntesis, a autora dá uma machadada no que são para mim os direitos humanos, o direito a ser-se pessoa individual, e por fim, aos direitos das crianças. Isto porque, dar-se razão aos pais biológicos não deve nem pode ser comparado a algum tipo de direito de propriedade sobre a criança como se uma coisa/objecto fosse, sendo que isso será somente isso, uma coisa e não uma pessoa.
Depois refere-se a esta, diz a própria, "razão", como garantia de uma dos pilares do Estado de Direito. Digo eu, um dos pilares é, de facto, a família. Mas família no seu sentido abrangente, uma abertura da palavra ao seu conteúdo, enquanto garante da dignidade da pessoa humana e não a família biológica que, pode ser, e é-o infelizmente em muitos casos, a primeira a violar os direitos das crianças.
Por fim, refere-se a "ingenuidade" dos pais efectivos e eu pergunto? Porquê? Por acreditarem que Portugal enaltece os laços e não o sangue? Por que acreditam que pais são os que dão os valores e afectos essenciais ao desenvolvimento condigno de um ser humano ou porque a palavra "pai" é um quanto baste para se por termo à controvérsia de afectos entretanto desenvolvidos como, diria eu irónicamente, família? Por acreditarem no bem enquanto zeladores da protecção de um menor que a priori os pais BIOLÓGICOS não quiseram???
Isto sim deixa muito a desejar em termos de justiça. É por este, sempre presente, complexo sobre a paternidade, e por se ter a ideia errada de que paterno é sinónimo de dono e proprietário, que temos quanto aos pais biológicos, cada vez mais, e isto com conhecimento de causa, a entrada de processos, também eles, cada vez mais complexos, das chamadas crianças de risco.
Aqui entre nós, que pilar é este afinal que retira as bases de uma criança de 5 anos que apenas tem, no seio do seu cerne, a família, esta até então, com quem cresceu e com quem aprendeu a ter a percepção do seu eu?
Existirá o fantasma da adopção em Portugal para sempre?
Para quando o desburocratizar destes processos de acolhimento para depois não se darem o tira-e-retira de crianças aos seus entes, afectivos ou não, como se de coisas se tratassem?
Para quando a visão dos filhos, enteados, no fim, de crianças, como pessoas, concentradoras de direitos e garantias e não a visão destas como pertenças de alguém como se fossem meros objectos?
Entretanto o que esperar da JUSTIÇA SENÃO SOMENTE INJUSTIÇA?
E tudo isto se passa aqui tão perto, com toda a consternação que se possa sentir aqui entre nós pelos instrumentos que nos estão disponíveis para recorrermos e para se fazer a habitual, dizem eles, os agentes que a promovem... justiça!???
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