Corpo (in)Docente!
Tem sido entre nós notícia o frente a frente entre Professores e o Ministério da Educação. Aliás, terminou ontem o que a FENPROF diz ser, as negociações normais e onde, no centro da discussão, está a revisão do Estatuto Docente.
Destacaria dos pontos polémicos a divisão da carreira em duas categorias (professor e professor titular); a imposição de quotas para aceder ao topo da carreira e a criação de um modelo de avaliação que inclui a apreciação dos pais.
Nesta questão parece-me que a ideia central defendida por Rui Pedro Batista é a correcta. Este autor diz, e passo a citar, que "o sistema é pouco exigente, inadaptado às actuais solicitações da sociedade e nem premeia os melhores (sejam professores ou alunos), nem pede responsabilidades a quem não atinge os patamares mínimos de qualidade", e ainda refere que "é preciso mudar profundamente o sistema educativo em Portugal" e que " é urgente avançar com um regime exigente de avaliação". Apesar de não fazer uma conclusão final à sua análise, poderemos pressupor uma certa tendência à sua posição favorável à reforma e, aqui, já terei muitas dúvidas.
Bem, a minha perspectiva teve de ser um pouco estudada porque não conheço as realidades específicas dos professores mas questiono muito o modelo de avaliação agora proposto. Não me parece que a avaliação dos pais seja um bom pressuposto, não, antes pelo contrário. Muitos dos pais não conhecerão também a formação pedagógica e colocá-la-ão sempre em causa se o seu educando não atingir níveis satisfatórios. Por sua vez um professor será emocionalmente influenciado por essa avaliação e tenderá, mesmo que irracionalmente (admitamos), a favorecer ou a dar o benefício da dúvida a alunos que não conseguiram atingir os objectivos. Mais uma vez, efeito subversivo.
A educação em Portugal não está bem e sim, é preciso (e urgente) reformá-la, mas, não tanto atacando ou penalizando os professores, e sim, modificando as estruturas do próprio sistema de ensino, nomeadamente, dando às escolas e aos conselhos directivos maior autonomia de intervenção, racionalização, execução... ou seja, uma espécie de delegação de competências, embora, creio, não o fosse no sentido formal.
A minha descrença sobre a Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, já conhecem. Aliás, aqui entre nós, já o referi, e pelo que me preocupa, sinceramente, as suas ideias e ideais reformistas assentes em atitudes autocráticas.
A Ministra passa a ideia de que assim a educação não está bem e, em vez de ter uma posição de supremacia sobre os professores, assume uma posição de superior hierárquico que, engana-se, não tem. Contudo, é óbvio, que a tomada de decisões pelo seu ministério tem as chamadas externalidades (negativas) nos mesmos profissionais. A ideia da avaliação, por exemplo, em vez de assentar na meritocracia (do latim mereo, merecer, obter), ligada a posições de mérito pessoal, não! Assenta numa classificação por fórmulas, numerus clausus e quadros que, mesmo não se sendo um leigo... é chinês!
Para terminar, aqui entre nós, terei de concluir que, um profissional da educação, governado por que cor for, necessita de ter, em si e per si, confiança no Ministério que o tutela, sob pena de cair em descrença e proporcionar um trabalho desmoralizado e, no fim... bem pior!
6 Comments:
Não podia estar mais de acordo com aquilo que escreveste... Em relação ao sistema de ensino e de avaliação de competências, muito há a mudar: engane-se quem pensa que a culpa dos maus resultados nos exames e/ou nos rankings europeus referentes à educação é dos professores (que são incompetentes, claro!) ou dos alunos (obviamente rebeldes e sem interesse pelo estudo!). É, naturalmente, importante e necessário mudar estruturas enraizadas, começando por baixo, pelos alicerces, e não pelo topo. É assim que se contrói um edifício sólido, ou não é?
No que diz respeito ao estatuto de carreira docente, concordo perfeitamente que haja uma avaliação do trabalho prestado e que se ascenda na carreira por mérito... agora a existência de "numerus clausus"!!?? Por que razão? Qual o objectivo? Quanto à avaliação do docente ser feita também por encarregados de educação, acho ridículo! Se querem que haja uma aproximação dos pais à escola, de modo a se poder falar numa verdadeira "comunidade educativa", não me parece que o melhor modo seja através de um sistema de "julgamento avaliativo"...A integração total e permanente dos encarregados de educação na formação educacional dos seus filhos não pode ser feita através da avaliação dos professores destes últimos...estamos a subverter papéis e a ignorar/ menosprezar as competências efectivas dos professores...
Por último, direcciono a minha observação para a minha superior hierárquica, a Sra Dona Ministra da (DES)Eduacação, que se julga dona do Mundo, cheia de certezas e que só tem feito asneira atrás de asneira...para não dizer pior! Os ministros, sejam eles eleitos ou nomeados, devem prestar serviço à população e, quando estão encarregues de um só assunto, têm que dominá-lo! Ora, aqui entre nós, não me parece que seja esta a situação... Mas enfim...
Não me vou alargar mais, até porque o comentário já vai longo...
Quanto a ti, minha amiga sempre atenta ao que a rodeia, continua a abordar estes assuntos polémicos que devem ser discutidos/debatidos para que, pelo menos aqui entre nós, o povo tenha voz e seja efectivamente ouvido! **Ana**
Serei sempre atenta Ana, tentarei cumprir esta promessa, haja alguém! ;) Quanto ao tema a educação é uma preocupação. E é porque aqui poderiamos ter mais sucesso profissional e escolar do que, efectivamente, temos.
A tua opinião vale ouro, não fosses tu professora ;))) Vamos ver onde isto vai parar minha amiga :s bjo
Acho sem dúvida que a mudança é necessária, na educação é urgente.
Quando se fala em mudança, todos estão contra, estão acomodados a um sistema que não exige e que não produz resultados. Concordo totalmente com a avaliação de professores(não feita por encarregados de educação, que por vezes nem sabem que ano frequenta o seu educando), como também a revisão da carreira do docente, estas medidas vão dinamizar e tornar competitiva uma boa fatia do funcionalismo público deste país. Os docentes passam a ter que se preocupar com a sua formação e vocação, a serem mais ambiciosos nos seus projectos de carreira, também o seu esforço e trabalho tendem a ser diferentes. No actual sistema(para além da vergonha que é a colocação de professores), aos efectivamente colocados bastava ver os anos passar, assim o ditado antiguidade é posto com estas reformas passa a não ter fundamento, o que a meu ver é bom.
Todos têm as mesmas oportunidades, nem todos têm as mesmas aptidões, como tal as carreiras devem estar de acordo com o esforço, trabalho e formação dos docentes.
A avaliação de professores espero que traga melhorias ao ensino, pois há professores que são incompetentes, sim, não tem vocação nem formação pedagógica para dar aulas, no entanto acabaram de se formar, não têm emprego, "vou dar aulas" os alunos é que pagam com a inexperiência e mais grave com a falta de vocação, a falta de gosto por ensinar. Assim um sistema de avaliação rigoroso acho que acaba por beneficiar a classe como também os alunos, deixando para trás os que não querem ser professores de carreira, como os que não são suficiente bons para ensinar.
As mudanças a que tanto tendemos a resistir, são uma necessidade que se impõe.
Penso que ninguém põe em causa a necessidade de mudanças no campo da educação... e até estamos de acordo no que respeita à avaliação dos professores e ao facto desta não dever/poder ser feita pelos encarregados de educação! Considero que a avaliação dos professores vai dinamizar muito os métodos de ensino e a própria formação do docente, sendo benéfico tanto para os alunos como para os próprios professores.
Realmente há professores que não têm vocação e que estão nas escolas simplesmente a ocupar vagas e a "(des)educar" as crianças...Não me parece, no entanto, que, hoje em dia, haja pessoas que terminam um curso e vão leccionar porque não arranjam mais sitio nenhum onde trabalhar. Pelo contrário!!...Se não se têm "cunhas", de modo a arranjar um lugar numa escola privada, quando se termina um curso, um estágio vocacionado para o ensino fica-se no desemprego...E porquê? Não porque a média é baixa ou porque não se têm competências, mas sim pelo simples facto de os professores só se poderem reformar após 36 anos de serviço e 65 anos de idade, que prolongam caso os anos de serviço não cheguem a 36! Um destes dias temos um esqueleto a leccionar, porque, como não tinha anos de carreira docente suficientes para ter a reforma, deixaram-no na sala de aula, o seu local de trabalho...O facto de, se os professores em início de carreira concorrerem para todo o país arriscando-se a ficar 3 anos em Freixo-de-espada-à-cinta, também ajuda a que a educação não seja, como era antigamente, uma opção para quem náo arranja emprego em mais sitio nenhum...secalhar é mais fácil ser-se ministro do que ser-se professor...até porque, por aquilo que se tem visto, as competências que são exigidas a um ministro não correspondem a uma décima daquilo que se pede a um docente! Mas esta conversa tem "panos para mangas" e vamos ver até onde as coisas chegarão!... Agora digo e torno a repetir: as mudanças têm que começar nos alicerces e não no topo do sistema! E não é massacrando os professores, culpabilizando-os e fazendo deles bodes expiatórios dos problemas educativos, que o ensino vai melhorar...isso é só mandar areia para os olhos daqueles que desconhecem a estrutura do ensino em Portugal!
Bem, depois disto o que posso dizer!? Concordo com a Isabel com diz que a educação tem de ser reformada e deve apostar-se na formação dos professores pois muitos não estão a "educar" de acordo com uma boa formação pedagógica... Já concordo com a Ana quando refere que essa mudança, necessária, se deve fazer n o tronco estrutural da educação, na base, nos alicerces. O que não quer dizer que não passe pelos professores, isso também é emergente, claro! Mas não fazer destes, subline-se, profissionais, os tais "bodes expiatórios" do que vai mal no sistema educativo portugues. ;)) Bom debate!
Todas as reformas ministeriais e outras estão condenadas desde início, pois estão a visar aspectos completamente insignificantes.
O País está em crise educativa generalizada, resultado das políticas governamentais dos últimos 20 anos, que empreenderam experiências pedagógicas malparadas na nossa Escola. Com efeito, 80% dos nossos alunos abandonam a Escola ou recebem notas negativas nos Exames Nacionais de Português e Matemática. Disto, os culpados são os educadores oficiosos que promoveram políticas educativas desastrosas, e não os alunos e professores. Os problemas da Educação não se prendem com os conteúdos programáticos ou com o desempenho dos professores, mas sim com as bases metódicas cientificamente inválidas.
Ora, devemos olhar para o nosso Ensino na sua íntegra, e não apenas para assuntos pontuais, para podermos perceber o que se passa. Os problemas começam logo no ensino primário, e é por ai que devemos começar a reconstruir a nossa Escola. Recomendamos vivamente a nossa análise, que identifica as principais razões da crise educativa e indica o caminho de saída. Em poucas palavras, é necessário fazer duas coisas: repor o método fonético no ensino de leitura e repor os exercícios de desenvolvimento da memória nos currículos de todas as disciplinas escolares. Resolvidos os problemas metódicos, muitos dos outros, com o tempo, desaparecerão. No seu estado corrente, o Ensino apenas reproduz a Ignorância, numa escala alargada.
Devemos todos exigir uma acção urgente e empenhada do Governo, para salvar o pouco que ainda pode ser salvo.
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