Eutanásia. A um passo da morte ou a um passo do céu?
Teria sido importante aproveitar os dinheiros públicos gastos no referendo sobre o aborto para juntar outra premissa tão ou mais importante que é a questão da eutanásia e aferir da sua estatuição. Isto porque, se admito excepções à vida e a vejo como um valor soberano, até mais do que absoluto, óbviamente, terei a mesma opinião na confrontação com a morte.
As excepções à vida que eu defendo são somente aquelas que poderão fazer com que esta perca o sentido existencial que possui, e daí o detrimento do valor vida. A mesma coisa na fase adulta da vida. Aqui terei de defender um SIM à eutanásia. E porquê?
Em relação ao aborto acho que é um acto de egoísmo querer acabar com uma vida, ou o que seja, somente porque a mãe acha por bem não o ter, por não ser o melhor momento, porque não tem assim tanto dinheiro, porque foi um erro, porque sei lá mais o quê. Acaba-se o princípio de defesa da vida, de esperança no futuro, nas instituições (com maior ou menor credo que ainda se tivesse), na solidariedade e sentido humanitário que um pequeno ser pode gerar. Sendo eu uma moderada do NÃO ao aborto, terei de ser, inevitavelmente, uma moderada do SIM á eutanásia. Não acredito no tal sentido existencial que uma vida em modo "vegetal" possa proporcionar a uma pessoa, e somente a estes casos. Quando uma pessoa, consciente, está numa cama anos e anos seguidos sem se mover, vendo o mesmo tecto dia após dia será que esta mesma ainda, talvez por inerência "pessoa", não poderá optar por cessar com o SOFRIMENTO, assim como agora se deu a optar sobre a vida de um ser que não pode ter defesa possível?
As excepções à vida que eu defendo são somente aquelas que poderão fazer com que esta perca o sentido existencial que possui, e daí o detrimento do valor vida. A mesma coisa na fase adulta da vida. Aqui terei de defender um SIM à eutanásia. E porquê?
Em relação ao aborto acho que é um acto de egoísmo querer acabar com uma vida, ou o que seja, somente porque a mãe acha por bem não o ter, por não ser o melhor momento, porque não tem assim tanto dinheiro, porque foi um erro, porque sei lá mais o quê. Acaba-se o princípio de defesa da vida, de esperança no futuro, nas instituições (com maior ou menor credo que ainda se tivesse), na solidariedade e sentido humanitário que um pequeno ser pode gerar. Sendo eu uma moderada do NÃO ao aborto, terei de ser, inevitavelmente, uma moderada do SIM á eutanásia. Não acredito no tal sentido existencial que uma vida em modo "vegetal" possa proporcionar a uma pessoa, e somente a estes casos. Quando uma pessoa, consciente, está numa cama anos e anos seguidos sem se mover, vendo o mesmo tecto dia após dia será que esta mesma ainda, talvez por inerência "pessoa", não poderá optar por cessar com o SOFRIMENTO, assim como agora se deu a optar sobre a vida de um ser que não pode ter defesa possível?
O Ser Humano é egoísta ao ponto de querer manipular a sua vida mesmo que isso interfira com outra por si gerada, mas não tem CORAGEM, no mesmo passo, para legislar sobre um tema que preferem ignorar na esperança que só aconteça aos outros.
Aqui entre nós, se a minha vida tiver de acabar, e aqui mudarei o tempo verbal para não chocar tanto e assim: se a minha vida tivesse de acabar como um vegetal, pressa a uma cama, por anos e anos a fio, então... preferia dar um passo à morte para chegar mais cedo ao céu... É um tema que voltarei a focar.
"As sociedades são o que são suas famílias" Aristóteles
8 Comments:
Pois é amiga, apesar de discordar em relaçao ao aborto, neste tema obviamente concordo contigo. Além de não haver absolutamente nehuma qualidade de vida, o sofrimento que leva uma pessoa a pedir para morrer é concerteza inimaginável! E na minha opinião devemos respeitar a decisão da pessoa e ajudá-la a concretizar essa decisão, quando é caso disso. É claro que eu espero nunca passar por algo desse género, nem de um lado nem de outro, pois não me consigo imaginar a matar alguém, mesmo que seja para aliviar a sua dor. Eu mesmo com um animal tenho de pedir a outra pessoa que o faça :(
Este tema é sem dúvida interessante. Tanto que foi o 1º que escolhi para publicar no Psicolaranja (http://psicolaranja.blogspot.com/2006/09/insensato-encarniamento.html). Já na altura manifestei as minhas dúvidas e opinião de que é um tema hiper-sensível.
Penso que, como falas Sara, a recente discussão sobre o aborto – e consequente decisão – têm aqui algum peso. Se acabamos de considerar justo que uma Mãe ou uma Família sobreponham a sua qualidade de vida ao direito de uma vida que está para nascer, também teremos que aceitar que alguém decida sobre o direito à sua própria vida quando essa qualidade de vida não está assegurada. Falamos de pessoas que normalmente não consideram vida o estado em que se encontram.
Há entretanto uma série de situações que terão que se discutir. A mim parece-me que não será aceitável permitir a terceiros por fim à vida de alguém ainda que sejam os responsáveis pelas suas decisões médicas. Coloca-se a questão das pessoas que ficam num determinado estado em que não têm consciência para tomar a decisão. Pois, mas a mim parece-me que só a própria pessoa é que poderá tomar tal decisão e para isso terá que poder faze-lo, obviamente.
Penso também que, qualquer legislação nesta matéria deveria ser o mais clara possível. Isto para evitar o arrastamento de algumas situações com a consequente exposição mediática, muitas vezes ao arrepio da privacidade e solenidade que estes casos deveriam merecer.
Acredito que haja muitas opiniões diferentes sobre este tema e algumas contrárias à minha. Mas lembrem-se que nenhuma delas (nem a minha nem as outras) será a verdade absoluta…
Amiga(o) anonimo :p Eu não posso esperar que quem defenda um sim à questão "aborto" tenha outra posição senão um sim em relação à eutanásia. De outra forma há aqui uma dualidade de critérios e uma certa incongruência, pois, se o que se defende é a autonomia, leia-se da mulher quanto a prosseguir uma gravidez indesejada então, que se de essa autonomia à própria pessoa (agora sim sem interferir com nenuma outra), em situações restritas e que, como referi sejam carentes do cariz existencial que é inerente ao meu conceito de vida.
Como referes Bruno a questão ética e a delimitação do conceito vida são amiguos para mim e tenho de me esforçar também por ultrapassar as dúvidas. Penso que não se deve impor a um médico que o faça quando não é nisso que acredita, estariamos a violar o direito do próprio médico. Quanto ao conceito tenho de chegar à conclusão que, para mim, a vida não é um conceito absoluto apesar de o ser, claro, mais do que SOBERANO... hasta ;)))
Concordo contigo nesta questão amiga. Acho que só a coragem de uma pessoa que se encontra nessas situações pedir para morrer diz tudo e acho que devemos concretizar essa sua decisão sem dúvida nenhuma. Estar anos e anos preso a uma cama só por si deve ser um enorme sofrimento e por isso mesmo é que eu, tal como tu, sou a favor da eutanásia.
Sim Catxinha, percebo o que referes mas acho que acabo por não concordar contigo numa questão e acho que me expressei mal :p Eu só concordo com a Eutanásia numa situação de vegetação duradoura, nada mais, e tenho para mim que, talvez, e, tal como defendia quanto ao aborto, uma excepção à lei seria a melhor forma de apaziguar este conflito de titãs. situação esta porque, como sabes ;) o legislador português não é mau, quem o é, é o intérprete-aplicador. A mh visão não se enquadra na tua (e da primeira opinião) no ponto do "sofrimento". embora até te esteja quase a ouvir falar e até sei que acabariamos (talvez) por chegar à mesma conclusão, o sofrimento só por si, embora de conotação negativa e dura, não pode ser indicador isolado na questão da decisão do termo à vida. Na minha opinião tem de ser acompanhado com a perda, e lá estou eu a repetir-me ;) do carácter existencial que a vida humana deve ter de per si. Daí que também entenda o que diz o Bruno. Que dizes??? ;)
Amiga, como tu sabes sou a favor da Vida. Sendo católica praticante e assumida falo como tal e considero que é importante a fase entre a doença e a morte... além disso quem somos nós para achar que somos senhores e donos da vida e da morte?!? Mas isto já é o meu lado mais católico a falar ... e claro isso cada um tem o seu...
Deixo-vos o exemplo do meu pai, que já faleceu e a quem foi diagnosticada uma doença terminal (Esclorose Lateral Amiotrófica)... se não tivesse tido o "seu" tempo não se teria encontrado com Deus... e com os outros... Para aqueles que não sabem o meu pai ficou sem falar e sem poder comer normalmente e respirar também era complicado. No último natal da sua vida foi parar aos cuidados intensivos e um médico disse-me a mim, à minha mae e à minha irmã que a situação só iria piorar e que provavelmente um dia teriamos de decidir se desligavamos as máquinas ou não... nem consigo descrever o que estas palavras provocaram em mim... mas imediatamente pensei que eu nunca iria decidir uma coisa dessas... é um peso muito grande para se carregar para o resto da vida...
Quanto à eutanásia só em estado "vegetal", até compreendo as vossas opiniões mas se nao concordam com o aborto porque é um inocente sem defesa, neste caso tb é... porque em num estado destes quem decide é a própria família...
Também conheço o caso do irmão de uma amiga minha que está numa cama,nao fala,nao come normalmente,nem se mexe... mas digo-vos que é a alegria daquela casa... davam-lhe dois meses de vida, há anos que ta assim e não me parece de todo infeliz, gosta de visitas e de carinhos, como qualquer pessoa gosta e ri-se com os risos dos sobrinhos...
Mas esta questão, tal como o aborto passa muito por ser uma questão de consciência... e aí cada um tem a sua...
bem que há a dizer depois deste debate...
já temos duas posições, mas eu tenho mesmo que me ligar à tua posição como um sim (moderado) ao aborto, reforço e redobro a minha posição no sim à Eutanásia... quem somos nós para tirar a vida de alguém??? ponho a questão de outra forma... quem somos nós para dár continuidade ao sofrimento de alguém??? ao fim de contas não será a evolução da medicina que proporciona condições extremas de estados vegetativos? antes as pessoas morriam porque não havia solução para a doença, agora as pessoas morrem porque há um tratamento que prolonga o estado vegetativo e o sofrimento desses mesmos doentes na esperança que apareça um outro tratamento que melhore a situação... no fim morre... mas com muito mais sofrimento!!!
Maria Isabel, lol, depois dessa defesa quase me deixavas K.O.... quase :p Eu conheço bem a tua fé e por vezes até a invejo, no melhor sentido da palavra, pois, já sabes, sou, porque sou, uma católica mas, e quando comparada a ti, pouco "ortodoxa" e cometo algumas heresias, lol, mas também penso que fé a mais estraga (ora toma :p). Agora a sério: quando se trata de pessoas temos o que de mais subjectivo há no mundo e a religião, igreja, fé, however, delimita essa subjectividade antes objectivando-a em verdades absolutas e invioláveis... atento ao que eu disse miguxa, a vida para mim é soberana mas não absoluta e sublino que admito a eutanásia a casos vegetativos e de consciência :) é um pouco também o que o Bruno diz e que pegou no reverso da tua opinião: quem somos nós para tirar a vida? é verdade e não contesto. Mas quem somos nós também para dizer que aquela pessoa tem de viver, ou melhor, sobreviver daquela forma (olhando para um tecto anos e anos)? é até um acto de cobardia pois a pessoa passa do facto de não ter movimentos para o de não ter vontade... passa a vegetal até na mente :s
Admito que a tua visão me abalou e adoro sempre as tuas defesas guerreiras mas também acho que o Bruno deu aqui a luz ao outro lado da questão... mas faça-se o debate, eu estou a aprender e a surpreender-me :) bjokinhas
Enviar um comentário
<< Home